11 de outubro de 2023
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Efeito Ozempic: existe remédio seguro para tratar obesidade em crianças e adolescentes? Especialistas respondem

No Brasil, 12% dos adolescentes de 10 a 17 anos são obesos; entre crianças de 5 a 9 anos, a taxa é de 15,8%

Adolescentes obesos têm mais de 90% de probabilidade de se tornarem adultos obesos. — Foto: Freepik

Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu aval ao Wegovy – medicamento à base de semaglutida, mesmo princípio ativo do Ozempic – para o tratamento de obesidade em adolescentes. Em janeiro, o remédio, que é administrado por meio de uma injeção semanal, recebeu o aval para uso no Brasil em adultos. Agora, a autorização foi estendida para aqueles a partir de 12 anos.

A nova indicação para faixas etárias mais baixas tem como base um outro trabalho, que acompanhou 201 indivíduos de 12 a 18 anos pelo mesmo período de pouco mais de um ano. Publicado no periódico New England Journal of Medicine, em dezembro do ano passado, o estudo mostrou uma eficácia de 16,1% na redução do peso nessa faixa etária.

Além disso, a pesquisa comprovou a segurança do fármaco para os mais jovens. Os efeitos colaterais mais comuns, assim como em adultos, foram os gastrointestinais, principalmente náuseas, vômitos e diarreia. Porém, geralmente de forma leve a moderada e de curta duração.

Esse é o segundo medicamento aprovado no Brasil para o tratamento da obesidade nesse público. O primeiro foi o Saxenda, que tem como princípio ativo a liraglutida, que teve seu uso entre adolescentes liberado em 2020. Na época, a decisão foi considerada pioneira.

A nova aprovação foi vista com bons olhos entre especialistas, dado que a obesidade na infância e adolescência é um problema crescente no Brasil e no mundo. Dados do Ministério da Saúde apontam que 7,4% das crianças de até 5 anos estão obesas. Entre aquelas de 5 a 9 anos, a taxa é de 15,8%. Já entre os adolescentes de 10 a 17 anos, 12% têm obesidade.

— O Brasil é um país onde não só a obesidade tem aumentado muito entre crianças e adolescentes, mas a gravidade também, ou seja, a obesidade está ficando cada vez mais grave nessa faixa etária e isso é um problema — diz o endocrinologista Fabio Trujilho, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).

Como crianças e adolescentes estão em fase de crescimento e desenvolvimento, a avaliação do sobrepeso e da obesidade nessa faixa etária é diferente dos adultos. Não basta apenas a avaliação do índice de massa corporal (IMC) uma única vez. O acompanhamento é feito da mesma forma que se faz o acompanhamento do crescimento, com uma curva de IMC, que leva em consideração o peso, altura, idade e gênero.

Riscos da obesidade infantil

Adolescentes obesos têm mais de 90% de probabilidade de se tornarem adultos obesos, em comparação com aqueles com peso normal nessa faixa etária. Além disso, ne não tratada, a obesidade infantil é um gatilho para doenças crônicas e graves como hipertensão, diabetes, dislipidemia, disfunção endotelial, entre outras.

— O risco de quem tem obesidade desde a infância ou adolescência é diferente de alguém que começa com a doença na vida adulta porque o tempo que a inflamação de base da obesidade está agindo no corpo é muito maior. Isso antecipa as doenças e encurta a vida — pontua a endocrinologista Maria Edna de Melo, diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Estudos mostram que adultos com obesidade desde a infância vivem até dez anos menos do que aqueles com peso normal. Por isso é fundamental já intervir nessa fase da vida. Para os pequenos – crianças e adolescentes de até 12 anos -, a única opção de tratamento disponível no país é a alteração do estilo de vida.

As recomendações incluem atividade física vigorosa, restrição do tempo de tela, boa qualidade e tempo de sono e, em especial, alterações na alimentação, com orientação da família, escola e sociedade. Isso inclui diminuição do consumo de alimentos com alto valor calórico e baixo valor nutricional, controle do tamanho da porção, aumento do consumo de frutas e água. Além de acompanhamento por equipe multidisciplinar, inclusive psicológico.

Para adolescentes a partir dos 12 anos, alterações no estilo de vida continuam sendo a primeira linha e a base do tratamento. Entretanto, nem sempre isso é suficiente, em especial para aqueles com quadros mais graves.

— A obesidade está ficando cada vez mais grave e isso é um problema porque a base do tratamento é e sempre será a mudança do estilo de vida, mas chega um momento em que essa obesidade é tão grave, que você precisa ter outras ferramentas — diz a pediatra Fabíola Isabel Suano de Souza, presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

O tratamento farmacológico é indicado após insucesso de programas de modificação de estilo de vida para mudança ou diante de casos muito graves.

— O medicamento vem a somar a uma mudança de estilo de vida — ressalta Trujilho.

Como agem os medicamentos

Tanto a liraglutida quanto a semaglutida pertencem à classe de inibidores do GLP-1, o principal hormônio associado à sensação de saciedade e ao mecanismo de produção de insulina. Esse tipo de medicamento imita a substância natural do organismo, que é sintetizada toda vez que o alimento chega à porção final do intestino delgado.

Nesse momento, o hormônio ativa mecanismos cerebrais que reduzem os movimentos intestinais de contração, prolongando a satisfação alimentar. Como o GLP-1 sintético não depende da chegada de comida ao intestino, ele atinge concentrações muito maiores na corrente sanguínea do que a do hormônio natural, além de durar mais no organismo. Isso reduz o apetite e promove o emagrecimento.

— A essência do medicamento para obesidade é controlar a fome. Uma vez que a gente tem menos fome, a gente consegue escolher melhor e comer menos e isso promove a perda de peso. Os medicamentos que agem no controle da alimentação, eles acabam agregando muito para o tratamento dos pacientes na adolescência e na vida adulta — explica Melo.

Ambos são injetáveis. A grande diferença é que enquanto a liraglutida é uma injeção diária, a semaglutida, é semanal. A redução da periodicidade de administração é vista como uma vantagem por especialistas.

— O uso de terapias injetáveis diárias para essa população é um desafio. Por mais que a agulha seja pequena e que o paciente acabe aprendendo que a aplicação não dói, não deixa de ser desconfortável. A semaglutida, que é de uso semanal, acaba viabilizando mais a aceitação dos pacientes e facilitando a aderência ao tratamento — pontua Melo.

Apesar dos benefícios do medicamento, quando bem indicado, o acesso ainda é considerado um problema pelos especialistas. Esses medicamentos têm um preço elevado e não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

Uma terceira opção, disponível apenas para adolescentes acima de 16 anos e IMC a partir de 40, com alguma doença associada ou ainda, IMC acima de 50, sem doenças associadas, é a cirurgia bariátrica. Nessa faixa etária, o procedimento pode ser realizado apenas em centros de referência.

O uso de tratamentos – como medicamentos ou cirurgia – para obesidade em adolescentes ainda é alvo de controvérsia. No entanto, todos os especialistas ouvidos pelo GLOBO são categóricos em dizer que o diagnóstico precoce e o controle da obesidade e suas complicações são fundamentais para melhorar não apenas a saúde física desse público, mas a saúde mental e autoestima.

— O remédio não é uma bala de prata, mas é uma ferramenta importante no tratamento da obesidade e quando bem usado no adolescente, vai promover saúde e boa qualidade de vida — conclui Trujillo.

Acesse o link do Portal do Jornal O Globo:
https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2023/10/11/ozempic-novas-drogas-ampliam-o-numero-de-tratamento-para-adolescentes-quais-sao-as-opcoes-seguras.ghtml

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