As ótimas lições de Jojo Todynho
Jojo Todynho garante: ela nunca romantizou a obesidade, ignorando os problemas que essa condição pode causar à saúde. Se acabou sendo interpretada de outra maneira é porque sempre foi uma mulher cheia de autoestima — ainda bem! Nunca levou desaforo provocado pelo estigma em relação a pessoas acima do peso para casa. E, sim, repetia e continua repetindo que se acha “uma gostosa”.
No início deste mês, a cantora, empresária e apresentadora se submeteu à cirurgia bariátrica. E, desde então, dá lições claras em suas redes sociais, sem papas na língua, sobre a importância de todos respeitarem quem busca um tratamento para a obesidade, seja ele cirúrgico ou não.
A operação é uma das alternativas terapêuticas e, para cada caso, haverá a melhor opção, sempre decidida pelo paciente em conjunto com a equipe de saúde. Só que, depois de ter contado aos fãs sobre essa decisão, Jojo anunciou que tinha desistido. E, no final, surpreendeu todo mundo quando apareceu internada para fazer a bariátrica.
“Sua saúde só interessa a você”
No pós-operatório, a artista justificou: nunca tinha desistido, nem nada. Continuou na dela, fazendo tudo o que a equipe multidisciplinar orientava para se preparar para a cirurgia, mas sem compartilhar essa fase. Isso porque estava ficando ansiosa com o volume de perguntas na linha “quem é seu médico?” ou “qual será a técnica?”
Inteligente, notou que a sua saúde só interessava a ela própria, que precisava de paz e sossego para se tratar — lição número 1. Então, omitiu seus planos por um período.
No pós-operatório, porém, tem sido generosa compartilhando sua experiência com mais de 27 milhões de seguidores, desmitificando o tratamento por um lado — “não estou sentindo enjoos, não vomitei, faço tudo direitinho”— e mostrando a vida real por outro. Já confessou, por exemplo, que não estava entrando na cozinha nessa adaptação pós-bariátrica para não atrapalhar. “É que lá sempre há coisas gostosas”, gargalha.
“Cada um que viva o seu processo. Não dá para comparar”
Mas a patrulha segue firme. As pessoas andaram questionando, entre outras coisas, por que ela foi caminhar na praia no inicio desta semana. “Tão cedo assim?!”, estranharam os fiscais da vida alheia. Direta, Jojo gravou: “Fui porque o meu médico liberou”.
Uma seguidora insistiu, dizendo que, desse jeito, ela iria desidratar. Jojo repetiu: “Meu médico mandou eu pegar a enfermeira e ir, levando as minhas coisinhas. Sigo um cronograma: tomo água, água de coco, isotônicos, remédios. Faço tudo direito.”
E arrematou no vídeo postado em seu perfil no Instagram: “Vamos deixar as coisas bem esclarecidas. Eu vivi todo o meu processo antes de operar. Assisti a palestras. Não faltei aos acompanhamentos com nutricionistas, psicólogos da equipe — além do meu próprio -, médicos. E continuo assim. Eu vivo o meu processo. Vocês que vivam o processo de vocês.”
Outros logo questionaram a falta de um dreno. Jojo retrucou que estava sem dreno pela técnica com a qual foi operada — sleeve. “Se o seu dreno ficou por mais tempo, você provavelmente passou por outra técnica de cirurgia bariátrica. Não dá para comparar”, informou.
Lição número 2, que Jojo deu nas respostas aos seguidores: diferentes técnicas e, principalmente, diferentes pacientes podem receber orientações diversas. “Quem faz um tratamento para obesidade não deveria se comparar a outras pessoas. Cada um tem o seu ritmo para perda de peso também”, comentou.
“Pessoas com obesidade não são acomodadas no prazer”
Para o nutricionista Erick Cuzziol, coordenador do Departamento de Voz do Paciente da Abeso, que também se submeteu à bariátrica, boa parte desses comentários é fruto, mais uma vez, da gordofobia. “Até mesmo nos consultórios, precisamos desconstruir essa ideia de que pessoas com obesidade são acomodadas no prazer”, diz ele. Para ele, é isso o que faria as pessoas desacreditarem no comprometimento da artista diante do seu tratamento.
Falam que Jojo está saindo antes da hora ou que está tomando qualquer outra atitude errada porque, no fundo, acham que o paciente bariátrico é aquele que não quer se se esforçar para emagrecer.
“As pessoas já deveriam ter entendido que obesidade não tem cura”, diz Erick. “Mesmo eu estando mais magro porque fiz a cirurgia, como Jojo, não eliminei meu tecido adiposo, ele apenas está murcho. Há uma luta constante para ele não voltar a ser preenchido de gordura e essa luta será pelo resto da minha vida.”
Na opinião do nutricionista, a escolha pela bariátrica, além de ser motivada por razões de saúde, é muitas vezes feita por quem já está completamente esgotado de tanto tentar perder peso e não conseguir. Logo, é a escolha de quem já se esforçou até demais — e não a opção do preguiçoso.
“O pior é que essa visão equivocada de que o paciente bariátrico gosta do caminho fácil acaba extrapolando. As pessoas acham que quem emagrece depois da cirurgia tem o perfil de quem não se esforça em outras esferas também, como no trabalho ou na vida social. Fica difícil”, diz ele.
“Continuo a mesma. O corpo gordo não me definia”
Mas Jojo Todynho, que cuida da saúde até para realizar com maior tranquilidade o sonho de ser mãe, parece bem forte para enfrentar essas provocações. Ela, aliás, já avisou: não vai fazer fotos, nem vídeos na linha antes-e-depois.
“Porque não faz sentido comparar o que continua igual”, explicou, de maneira exemplar. “Eu continuo a mesma mulher, o mesmo ser humano, com a minha cabeça, a minha inteligência, as minhas manias, o meu talento, os meus defeitos e as minhas qualidades. O corpo gordo não me definia. O corpo depois da cirurgia também não me definirá. Somos muito mais do que a obesidade.”
@imagem reproduzida do Instagram da artista
