28 de maio de 2023
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Dia 2 de junho: vamos nos lembrar que transtornos alimentares têm recuperação

O Dia Mundial de Conscientização dos Transtornos Alimentares, 2 de junho, neste ano foca em mostrar que, sim, eles têm recuperação. 

Alinhadas com essa campanha que acontece em todo o mundo, a Abeso e a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologista e Metabologia) aproveitam para esclarecer um pouco mais esse assunto, usando em suas redes sociais a seguinte hashtag: #TAstêmrecuperação.

Afinal, se existe um forte estigma quando uma pessoa tem obesidade, imagine quando ela, além de apresentar um IMC elevado, sofre de quadros psiquiátricos os quais, por si só, são alvo constante de preconceito na nossa sociedade.

Assim, os integrantes do Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Abeso — os psiquiatrias Adriano Segal (coordenador), Ana Clara Franco Floresi e José Carlos Borges Appolinario, mais a endocrinologista Priscilla Gil — se encarregaram de preparar o texto a seguir com algumas informações importantes. 

OBESIDADE E TRANSTORNOS ALIMENTARES

O que essas duas condições têm em comum? Para começo de conversa, a obesidade não é um transtorno alimentar. Aliás, a obesidade nem sequer é qualquer outro transtorno psiquiátrico. Mas ambos são doenças multifatoriais, influenciadas por fatores genéticos, metabólicos, ambientais e comportamentais. E ambos levam a mais e mais problemas de saúde.

Os transtornos alimentares são quadros psiquiátricos que causam alguma perturbação persistente em relação à alimentação ou aos comportamentos voltados ao controle de peso. E provocam danos significativos não só ao organismo, mas  aos aspectos psicossociais do indivíduo acometido.

Acima de tudo, tal qual a obesidade, os transtornos alimentares não são uma escolha  — não são gula, mania de magreza, excesso ou falta de vaidade, nada disso. E também têm um conjunto de intervenções com forte evidência científica de bons resultados. 

O que precisamos é de políticas públicas, envolvimento dos profissionais de saúde e, não menos fundamental, informação correta para acabar com o estigma e para que as pessoas com esses quadros sejam devidamente acompanhadas e tratadas.

Bom deixar claro, ainda, que o comportamento alimentar disfuncional observado nesses transtornos não faz alguém desenvolver obesidade. Mas alguns quadros podem estar associados a ela, como a bulimia nervosa, o transtorno da compulsão alimentar (TCA) e a síndrome do comer noturno, os quais vamos abordar na sequência.

BULIMIA NERVOSA

Apesar de dados recentes apontarem um crescimento na proporção de homens com bulimia nervosa, a bulimia nervosa continua sendo um transtorno alimentar que acomete predominantemente as mulheres, atingindo entre 1% e 1,5% da população feminina jovem.

Ela se caracteriza por episódios recorrentes  de ingestão de grandes porções de alimentos em um intervalo de tempo muito curto, deixando a pessoa com a sensação típica da compulsão alimentar, ou sejam sentindo que perdeu o controle para comer. E isso se associa a comportamentos inadequados na sequência para tentar evitar o ganho de peso. 

A auto-indução do vômito para “compensar” o episódio de compulsão alimentar é a prática mais frequente e, talvez, a mais conhecida delas. No entanto, a bulimia nervosa também pode envolver jejuns, atividade física extenuante e o uso de supostas medicações para emagrecer que colocam a saúde ainda mais em risco.

Para o diagnóstico, os episódios de comer compulsivamente seguidos desses métodos compensatórios devem ocorrer ao menos semanalmente pelo período mínimo de três meses, segundo o DSM-5-TR, e estarem associados a uma excessiva preocupação com o peso e com a forma corporal.

O tratamento é realizado por uma equipe multidisciplinar, incluindo psiquiatra, psicólogo e nutricionista. O uso de medicações pode ser necessário para tratar a impulsividade característica desse transtorno. No caso, o psiquiatra pode lançar mão de antidepressivos da classe dos inibidores da recaptação de serotonina (ISRS) e do topiramato, que são os esquemas medicamentosos mais consagrados. 

Vale lembrar que são medicamentos de uso controlado. Portanto, só devem ser sob acompanhamento médico.

TRANSTORNO DE COMPULSÃO ALIMENTAR

Nesse transtorno, os episódios de compulsão alimentar são frequentes, acompanhados de um sofrimento marcante, com muita culpa e vergonha. Mas, diferentemente do que ocorre na bulimia nervosa, o indivíduo não faz nada de inadequado para evitar o ganho de peso, que seria uma possível consequência.

Esse quadro acomete 3,5% das mulheres e 2% dos homens ao longo da vida.  Ou seja, afeta de forma quase equivalente homens e mulheres, sendo apenas 1,5 vez mais frequente na população feminina.

Nota-se que, e pacientes com obesidade, há aumento significativo de ocorrência de transtorno de computação alimentar em comparação à população geral. Os índices chegam a ser de 30% a 50%, a depender do grau de obesidade considerado. 

Para diagnosticar esse transtorno , os episódios de compulsão alimentar devem ocorrer ao menos semanalmente por pelo menos três meses, segundo o DSM-5-TR. Além disso, devem  associados a sofrimento marcante por causa desse comer sem controle e a três ou mais dos seguintes aspectos: comer muito depressa; só parar de ingerir comida ao sentir desconforto abdominal; comer grandes porções de alimentos na ausência da sensação física de fome e fazer isso escondido dos outros, desgostoso de si mesmo, deprimido ou achando-se muito culpado.

O tratamento deste transtorno alimentar deve também ser idealmente conduzido por  uma equipe multidisciplinar, sendo a terapia cognitivo comportamental (TCC) o tratamento de primeira linha. A abordagem nutricional é também recomendada, bem como o tratamento farmacológico. 

A única medicação aprovada para o transtorno de compulsão alimentar  é a lisdexanfetamina (LDX), mas outros agentes são estudados e costumam ser usados. A LDX mostrou ser eficaz e segura, mas requer cuidados específicos, principalmente nas áreas psiquiátrica e cardiológica. 

SÍNDROME DO COMER NOTURNO

Inicialmente descrito dá década de 1950 como um quadro de falta de apetite matinal, esse transtorno na verdade se associa a um atraso no ciclo circadiano da alimentação. Isso causa hiperfagia noturna e insônia inicial, ou seja, a pessoa não consegue pegar no sono, especialmente se não comer.

No DSM-5-TR, a síndrome do comer noturno é classificada comoum transtorno alimentar especificado. Os episódios de comer após despertares no meio da madrugada ou de se alimentar excessivamente durante o jantar são recorrentes.

O paciente come acordado e de forma consciente, descrevendo que precisa fazer isso para conseguir conciliar o sono.

A quantidade calórica ingerida nesses episódios noturnos é menor do que aquela ingerida nos episódios de compulsão alimentar, mas representa pelo menos 25% da ingestão diária. 

Esse quadro impacta muito no repouso e, claro, na qualidade de vida do indivíduo acometido. Por sorte, seu tratamento conta com opções medicamentosas bastante eficazes. A sertralina, antidepressivo da classe dos ISRS, deve ser a primeira escolha medicamentosa, caso não haja contraindicação para o seu uso.

PARA CONCLUIR

Lembre-se que os transtornos alimentares, assim como a obesidade, não são uma escolhe e, sim, condições de saúde que requerem tratamento. Temos que promover a saúde e a aceitação corporal. Com conduta clara e discurso respeitoso, é possível prover um tratamento efetivo para as demandas clínicas e psíquicas dos indivíduos que sofrem de obesidade e desses quadros.

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