Por Dra Jacqueline Rizzolli*
Um dos maiores temores do paciente que se submete à Cirurgia Bariátrica é recuperar o peso perdido. A maioria dos pacientes passou por inúmeros tratamentos prévios à Cirurgia Bariátrica, alguns bem sucedidos, outros nem tanto, mas todos com a enorme frustração de não conseguir sustentar os resultado a médio e longo prazo.
Engana-se quem imagina que após a cirurgia isso nunca mais irá ocorrer. Os primeiros 18 meses após a cirurgia são considerados como a fase da “Lua de mel”, em que a pessoa geralmente está muito motivada, seguindo à risca as orientações da nutricionista, com pouco apetite, recebendo diversos elogios sobre sua aparência e entusiasmada com atividade física. Com o passar do tempo, o apetite vai aumentando, o peso estabiliza, os problemas emocionais podem retornar e os velhos hábitos
Mais de 50% dos pacientes terá algum grau de recuperação de peso e é importante saber o que é considerado normal – e até esperado – e o que não é normal. Recuperar cerca de 5-10% do excesso de peso reduzido após 24 meses da cirurgia, de forma lenta e sem repercussão clínica, pode ser considerado normal e não necessitar nenhum tratamento. Por exemplo: uma mulher de 49 anos, operada há 5 anos, tinha 120kg e 1,65m no pré-operatório (excesso de peso 52kg); com 24 meses de pós- operatório havia reduzido 56kg, estava com 64kg de peso (perda de 107% do excesso de peso, bem acima do esperado) e atualmente encontra-se com 72kg. Apesar de ter recuperado 8kg de peso, ela está com uma perda de 92% do excesso de peso, o que é um resultado excelente. Esta paciente deve revisar hábitos e dieta com a nutricionista, reforçar atividade física e manter controle com sua Equipe.
Se o reganho de peso se inicia ainda no primeiro ano de pós-operatório, ou ocorre de forma rápida e associado a maus hábitos, se algumas das comorbidades como diabetes, esteatose (gordura no fígado), apneia do sono, colesterol e triglicerídeos elevados retornam, ou se a redução do excesso de peso for inferior a 50%, isto não é normal, deve ser avaliado e, dentro do possível, tratado. Por exemplo, a mesma paciente de 49 anos operada há 5 anos, com peso de 120kg e 1,65m de altura, que havia reduzido para 84kg com 24 meses de pós-operatório (perda de 69% do excesso de peso) e atualmente está com 98kg (42% de perda de excesso de peso), além de estar novamente hipertensa e com esteatose hepática, apresenta uma reengorda significativa e com prejuízos a saúde.
O paciente deve, preferencialmente, procurar a equipe multidisciplinar que o operou. A equipe deve estar preparada e apta para receber este paciente e acolhê-lo sem discriminação. O paciente deve passar por avaliação clínica, nutricional e psicológica, além de exames específicos conforme a investigação clínica mostrar ser necessário. Algumas questões precisam ser respondidas:
1. Quantas vezes por dia você está comendo?
2. Você sente fome? Quanto tempo após a refeição?
3. Você se sente saciado? Com quais alimentos? Quanto tempo dura esta
4. Qual o tamanho da porção de alimentos que você consegue ingerir?
5. Você sente azia ou refluxo?
6. Você iniciou algum novo medicamento nos últimos meses?
7. Você está fazendo atividade física? Que tipo de atividade e frequência na
8. Você está ingerindo bebidas alcoólicas?
9. Você está ingerindo refrigerantes e bebidas adoçadas com açúcar?
10. Você se sente culpado ou depressivo?
11. Você sabe o motivo pelo qual está recuperando seu peso?
Com base nestas informações e com um recordatório alimentar, pode-se ajudar o paciente a descobrir o que está causando o aumento do peso e buscar tratamento adequado. Na maior parte dos casos a reengorda se dá por retorno a maus hábitos alimentares, padrão beliscador (comer biscoitos, doces, salgadinhos, e outro alimentos calóricos e com baixo poder de saciedade em porções pequenas e frequentes), consumo de álcool e bebidas adoçadas e inatividade física. Nestes casos deve-se reorganizar a alimentação, iniciar atividade física ou intensificá-la, revisar hábitos saudáveis e se necessário acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. O uso de medicamentos antiobesidade como sibutramina, orlistat, liraglutida, pode ser indicado para auxiliar na redução do peso, bem como alguns antidepressivos e estabilizadores sensação?
Em um número pequeno de pacientes pode-se detectar falha na cirurgia, com aumento significativo do tamanho do estômago ou passagem muito ampla entre o estômago e o intestino. Nestes casos, quando necessário, além da mudança de hábitos e atividade física, pode ser considerado o uso de Laser de argônio, plicatura gástrica (técnicas para melhorar a restrição gástrica, feitas ambulatorialmente por endoscopia) ou até uma nova cirurgia. Os casos devem ser avaliados rigorosamente, pois as complicações cirúrgicas e a mortalidade são maiores no segundo procedimento bariátrico e os resultados são muito variados, nem sempre se obtendo o que o paciente ou a equipe desejam.
*Dra Jacqueline Rizzolli é endocrinologista do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS e colunista da Abeso e integra o departamento de Cirurgia Bariátrica da entidade.