14 de julho de 2017
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Refrigerante na gravidez pode elevar risco de obesidade infantil

Diante da epidemia mundial de obesidade infantil vivida atualmente, a prevenção deve ser iniciada já nas fases iniciais do desenvolvimento humano. A partir de quando é a questão que vem desafiando especialistas no mundo inteiro. Estudos mais recentes já demonstram que a prevenção deve ser iniciada ainda antes do nascimento, ao longo da gestação, beneficiando não apenas os fetos, mas também as gestantes. O grande desafio no momento é, portanto, demonstrar associações entre a dieta das mulheres grávidas e o risco de obesidade em sua prole.

A ingestão de bebidas açucaradas é uma importante estratégia já conhecida para a prevenção e tratamento da obesidade em adultos e crianças. Diversos estudos já identificaram que a ingestão destas bebidas com regularidade pode promover aumento de peso e obesidade, além de promover o desenvolvimento de síndrome metabólica e diabetes tipo 2.

Com o objetivo de verificar a associação de bebidas açucaradas e o consumo de outras bebidas durante a gravidez com a adiposidade infantil,  o estudo Beverage Intake During Pregnancy and Childhood Adiposity, denominado Projeto Viva, acompanhou 1078 mulheres grávidas e também os seus filhos, após o nascimento. 

O Projeto Viva, publicado na edição de agosto da revista Pediatrics, comparou as mulheres que consumiram bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos adoçados artificialmente, a outras que não consumiam este tipo de bebidas ao longo da gravidez. 

Os filhos das mães pertencentes ao grupo que consumiu maiores quantidades de bebidas açucaradas apresentaram, por volta dos 7 anos de idade, maior adiposidade.  

 

Projeto Viva

O estudo foi iniciado entre os anos de 1999 e 2002, quando foram recrutadas mulheres no início da gravidez atendidas pelo Atrius Harvard Vanguard Medical Associates, um grupo sem fins lucrativos constituído em 2004, que hoje integra 36 clínicas localizadas no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos.

Das 2128 mulheres grávidas de feto único atendidas no período, foram excluídas 59 portadoras de diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2 ou que haviam desenvolvido diabetes gestacional em gravidez anterior, assim com as 44 participantes que tiveram seus partos antes das 34 semanas de gestação e as 947 participantes que não frequentavam com regularidade as consultas de rotina. Assim, o projeto seguiu com uma amostra de 1078 pares de mães e filhos. 

Foram realizadas visitas de estudo no final dos primeiro e segundo trimestres de gravidez, que seguiram durante os primeiros dias após o parto e depois, na infância das crianças até uma média de 7,7 anos de idade. Além das visitas presenciais, as mães completaram questionários enviados a elas  regularmente. Ao final do estudo, também foram realizadas medições de altura, peso, massa total de gordura, circunferência abdominal e dobras cutâneas. 

Desta maneira, foram obtidos os dados sobre o consumo de bebidas durante a gravidez, incluindo frequência de consumo de bebidas açucaradas, sucos de fruta naturais, refrigerantes sem açúcar e água. Não foram incluídos no estudo produtos lácteos, chás ou café.

 

Perfil das participantes

Os dados maternos médios, no início do estudo, foram de 32,1 anos de idade, IMC pré-gestação de 24,6 e ganho de peso gestacional total de 15,6 kg. O grupo era composto de 32% de participantes multirraciais ou negras, 10% de fumantes, inclusive durante a gravidez, 68% com nível superior e 39% com renda familiar anual menor ou igual a US$ 70 mil.

No segundo trimestre, a ingestão média de bebidas açucaradas foi de 0,6 porções diárias. Mais da metade consumiu menos de 0,5 porção por dia, e menos de 10% bebeu mais de 2 porções por dia. As ingestões médias de suco, refrigerante dietético e água foram 1,4, 0,1 e 4,5 porções por dia, respectivamente.

O maior consumo de bebidas açucaradas no segundo trimestre estava relacionado a menor idade materna, maior IMC pré-gestação, menores escolaridade e renda doméstica, tabagismo durante a gravidez, duração mais curta da amamentação e introdução precoce de alimentos sólidos. 

Na infância, 272 (25,2%) das 1078 crianças apresentaram sobrepeso ou obesidade, ou seja, percentil superior a 85 para a idade e sexo correspondentes. 

Entre as bebidas açucaradas, a ingestão materna de refrigerante demonstrou associação mais forte do que as bebidas de frutas. Não foram observados efeitos diferentes entre descendentes de obesos ou obesos (IMC ≥25) em relação às mães com peso normal. Também não houve diferenças significantes nos resultados com relação ao consumo de bebidas açucaradas pelas crianças.  

Um fato curioso foi que a ingestão de bebidas açucaradas no primeiro trimestre não repercutiu em diferenças tão significativas na obesidade infantil como no segundo trimestre. Nesta fase, a partir de análises da substituição das bebidas açucaradas por água, suco de fruta natural ou leite houve um efeito benéfico maior no peso das crianças, inclusive, do que a substituição por refrigerante dietético.

 

Bebidas açucaradas e a obesidade dos filhos

As crianças em idade escolar, filhos de mães que consumiram mais bebidas açucaradas ao longo da gravidez, apresentaram maiores níveis de adiposidade, espessura de dobras cutâneas e percentil do IMC. Cada dose adicional de bebida açucarada consumida pela mãe durante o segundo trimestre de gestação foi associada a 0,15 kg/m2 de massa gorda. 

Para os pesquisadores responsáveis pelo estudo, esses achados sugerem que os esforços para limitar o consumo de bebidas açucaradas na gravidez podem ajudar a prevenir a obesidade infantil.

Devemos, portanto, considerar que a importância das primeiras fases do desenvolvimento humano como importantes para o desenvolvimento da saúde e da doença, trazendo consequências que serão importantes ao longo da vida, inclusive com relação à obesidade e doenças crônicas

É também importante lembrar que, além dos achados neste estudo, o comportamento materno está diretamente relacionado à saúde da prole, pois as mães, assim como os pais, sempre serão vistos como um modelo de comportamento para os filhos. 

 

De olho nas bebidas adoçadas artificialmente

As estratégias de prevenção nas primeiras etapas do desenvolvimento humano, já antes do nascimento, são promissoras para a prevenção da obesidade e de doenças não transmissíveis ao longo da vida. 

Neste estudo, as mães que consumiram mais bebidas açucaradas ao longo da gestação tiveram filhos com níveis maiores de adiposidade. 

Nos Estados Unidos, a redução da ingestão de bebidas açucaradas pela população em geral já vêm sendo apontada nos últimos anos. No entanto, o mesmo não se pode dizer para países de baixa e média renda, nos quais a ingestão de bebidas açucaradas segue aumentando, juntamente com o rápido crescimento da obesidade. 

A falta de recursos para intervenções de mudança de comportamento individual pode ser um dos obstáculos para este crescimento. Sabendo que as mulheres podem ser mais propensas a mudanças de comportamento quando estão grávidas, os resultados sugerem que intervenções para reduzir a ingestão de bebidas açucaradas durante a gravidez podem ser extremamente positivas.

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