14 de agosto de 2009
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Perspectivas da Síndrome Metabólica

Perspectivas da Síndrome Metabólica
14 de agosto

Com o auditório lotado, a conferência “Passado, Presente e Futuro da Síndrome Metabólica”, ministrada pelo Dr. Amélio Godoy-Matos  – professor de pós-graduação da PUC/RJ, ex-presidente da ABESO e Chefe do Serviço de Metabologia do IEDE -, deu início aos trabalhos da manhã de sexta-feira, 14/08, do XIII CBOSM.

   
O presidente desta conferência, Bruno Geloneze, destacou o pioneirismo do conferencista nos estudos sobre a Síndrome Metabólica. Dr. Amélio iniciou sugerindo uma mudança no título de sua apresentação para “O Futuro do Pretérito da Síndrome Metabólica”, no sentido de que boa parte dela é um condicional, ou seja, trata-se de perspectivas e desejos, e de uma condicional a ser sempre provada ou não.

   
Dr. Godoy fez um breve histórico sobre a SM (a partir de 1947) e os anos 80, passando pelos estudos de Jean Vague, que alertou o mundo científico para a “obesidade andróide”, mas que não foi alertado para o fato de que seus pacientes não tinham gordura periférica, embora a concentrassem na região abdominal. Em seguida, explicou que, em 87, Matsuzawa cunhou o termo “síndrome da gordura visceral”, mais relacionada com a resistência à insulina. Quem lançou para o mundo acadêmico a SM como fato científico foi Gerald Reaven, mostrando os três grandes componentes da SM: diabetes, hipertensão e dislipidemia – sendo a resistência à insulina o epicentro da SM, que culminaria no aumento de chances de se desenvolver doenças cardiovasculares. Entretanto, Reaven se recusava a associar a obesidade como fator condicionante da SM.  


Excesso de Peso    

A gênese da SM começa, então, a partir do ganho de peso e isso é o que revela um estudo prospectivo de acompanhamento de pacientes adultos ao longo de 15 anos, mostrando que o ganho  ou a flutuação do peso entre as mulheres são fatores preditivos da SM.  Por outro lado, Dr. Godoy-Matos questionou que nem todo obeso tem Síndrome Metabólica, é diabético ou insulinoresistente. Nem todo diabético é obeso, por sua vez.

   
Esses quadros clínicos podem ser explicados, segundo Godoy-Matos, pelo fato de que o excesso de peso não é o único indício de SM, mas também o modo como a gordura é distribuída. E se o excesso de peso concentrar-se na região central, o risco de desenvolver SM é ainda maior. A gordura visceral também é um preditor de SM, que, por sua vez, é preditora de diabetes e de doenças cardiovasculares. Dr. Godoy-Matos explicou também, através de outros estudos, que quanto mais peso se ganha na região central do corpo, maiores são as chances de o paciente desenvolver SM; e quanto mais gordura acumulada na região da coxa e na região periférica, menores as chances de se desenvolver diabetes e doenças isquêmicas no homem e na mulher. Então, pode-se dizer que a gordura localizada na região periférica é um fator de proteção dos distúrbios metabólicos e de doenças isquêmicas.

  
Nesse ponto, ele passou a demonstrar estudos do seu grupo (Dra. Cynthia Valério) com pacientes portadores de lipodistrofia parcial, cuja característica é exatamente a ausência de gordura periférica. Ele demonstrou que as pacientes com lipodistrofia parcial têm mais gordura central do que o grupo controle pareado para peso, sexo e idade. Entretanto, o que eles têm menos é a gordura periférica e esta é aquela que se correlaciona com as alterações do metabolismo, como triglicerídeos e HDL-colesterol.


SM e Diabetes Tipo 2
   
Outro tema abordado na conferência disse respeito à SM e ao diabetes tipo 2: trata-se de uma doença do adipócito? Sobre isso, Dr. Godoy-Matos explicou que o tipo e o local do adipócito são importantes para responder a questão, dado que os adipócitos não são iguais. Isto é, existe gordura boa (periférica) e ruim (abdominal). Essas condições são respaldadas por um experimento realizado com grupos de camundongos, por meio do qual realizou-se um transplante de gordura visceral para a gordura visceral em outro animal; um outro transplante de gordura subcutânea para a região visceral, e um outro de gordura subcutânea para a subcutânea.

No primeiro procedimento, nada aconteceu. Entretanto, no segundo experimento, houve uma redução do peso e da gordura total e melhoraram os níveis de glicose e insulina, assim como o quadro metabólico. O mesmo ocorreu no terceiro transplante, só que em menor extensão. A gordura subcutânea é, portanto, intrinsecamente diferente da gordura visceral, podendo agir de modo sistêmico e melhorar o metabolismo do adipócito do indivíduo. Nesse sentido, a SM obedece, segundo Dr. Godoy-Matos, ao mais antigo conceito existente na humanidade: a luta entre o bem ou o bom (“adipócito”) e o mau (“adipócito”).

   
Dr. Godoy-Matos apresentou, ainda, outras temáticas associadas ao estudo sobre a SM, entre elas, o SHBG como preditor do diabetes tipo 2, questionando o papel desta proteína exercendo uma possível função biológica, além de relações entre a presença de gordura no fígado e a resistência hepática à insulina. Sobre o tema, o Dr. Amélio destacou as conclusões de Gerald Schulman: “se você não pode estocar gordura apropriadamente, vai depositá-la no fígado, músculo e causará resistência à insulina”. Trouxe ainda alguns dados de sua tese de doutorado, que versa sobre o papel da gordura intramiocelular e sua relação inversa com a adiponectina.

Nesse estudo, ele tratou pacientes com SM utilizando a rosiglitazona por 6 meses, e observou que, apesar de um ganho de peso de 6 kg, houve melhora dos parâmetros metabólicos. E, mais importante, um aumento da gordura extramiocelular e não da intramiocelular, medidas por espectroscopia de prótons por ressonância magnética.

  
Por fim, concluiu a palestra estabelecendo uma diferenciação entre o conceito e a definição de Síndrome Metabólica, para, então, se pensar sobre as condições que fazem com que um paciente seja classificado como portador de SM. Tem se discutido se a SM tem utilidade prática ou não. Na verdade, o conceito de SM é fisiopatológico e isto é indiscutível.

Um recente documento da Endocrine Society propõe um outro conceito de “Risco Metabólico”. “Aqui, o conceito visa, sim, a identificar pacientes em risco de desenvolver diabetes, doença cardiovascular e arteriosclerose. Acontece que para reconhecer esses pacientes os autores recomendaram exatamente a definição da SM proposta pela NCEP!”, concluiu o especialista.


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