19 de outubro de 2017
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Obesidade infantil aumentou 10 vezes nas últimas quatro décadas

Segundo estudo da OMS e Imperial College de Londres, a obesidade deve ultrapassar a desnutrição até 2022

O mundo terá mais crianças e adolescentes obesos do que desnutridos até 2022. A afirmativa faz parte de um estudo publicado na última semana no periódico Lancet, em virtude do Dia Mundial da Obesidade, comemorado no último dia 11 de outubro. Se as tendências atuais continuarem, teremos mais crianças e adolescentes obesos do que moderadamente ou severamente abaixo do peso até 2022.

O estudo, denominado Worldwide trends in body-mass index, underweight, overweight, and obesity from 1975 to 2016: a pooled analysis of 2416 population-based measurement studies in 128·9 million children, adolescents, and adults, foi promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com o Imperial College, de Londres, na Inglaterra.

Mais de mil colaboradores participaram do estudo, que analisou o índice de massa corpórea (IMC) e como a obesidade mudou em todo o mundo de 1975 a 2016. Para isso, foram verificadas as medidas de peso e altura de cerca de 130 milhões de jovens com mais de cinco anos de idade (31,5 milhões entre cinco e 19 anos e 97,4 milhões com mais de 20 anos). Com estes números, trata-se atualmente do maior estudo epidemiológico já realizado em número de participantes envolvidos.

Enquanto no ano de 1975 as taxas de obesidade nas crianças e adolescentes do mundo aumentavam menos de 1% (equivalente a cinco milhões de meninas e seis milhões de meninos), em 2016 o índice subiu para quase 6% em meninas (50 milhões) e quase 8% em meninos (74 milhões). Combinados, o número de obesos de cinco a 19 anos aumentou mais do que dez vezes no mundo, de 11 milhões em 1975, para 124 milhões em 2016. No ano passado, ainda, 213 milhões dos participantes não atingiram índice de obesidade, mas foram considerados com excesso de peso.

 

O que há por trás do aumento da obesidade

Segundo o autor principal do estudo, professor Majid Ezzati, diretor da Escola de Saúde Pública da Faculdade de Medicina do Imperial College, nas últimas quatro décadas, as taxas de obesidade em crianças e adolescentes aumentaram em todo o mundo e continuam a crescer em países de baixa e média renda. Mais recentemente, este fenômeno também tem sido verificado em países de maior renda, tornando os níveis de obesidade inaceitavelmente altos em todo o mundo.

Para o professor, essas tendências são preocupantes e refletem o impacto do marketing e das políticas de alimentos em todo o mundo. Segundo o prof. Ezzati, os alimentos nutritivos e mais saudáveis são muito caros para as famílias e comunidades pobres. Com isso, a tendência é que as novas gerações de crianças e adolescentes cresçam obesos e com maior risco de doenças, como diabetes.

A solução para o problema, sugere, é tornar os alimentos saudáveis ​​e nutritivos mais disponíveis nas casas e nas escolas, especialmente entre as famílias e comunidades pobres, regulamentando e direcionando os impostos com o objetivo de proteger as crianças dos alimentos pouco saudáveis.

 

Obesos x desnutridos

Para os autores do estudo, se as tendências pós 2000 continuarem, os níveis globais de obesidade infantil e de adolescentes superarão os de desnutrição severa e moderada da mesma faixa etária até 2022. Em 2016, o número global de meninas e garotos desnutridos foi de 75 milhões e 117 milhões, respectivamente.

Mais preocupante que, em 2016, o alto índice de crianças e adolescentes desnutridos representar um grande desafio para a saúde pública, especialmente nos países subdesenvolvidos, é haver jovens desnutridos e obesos convivendo nas mesmas comunidades. Isso revela a rapidez com que os indivíduos podem passar do peso insuficiente para o sobrepeso. O fenômeno já vem sendo observado inclusive em países de renda média do Leste Asiático, América Latina e Caribe.

Para os autores, este fato reflete o aumento do consumo de alimentos muito calóricos, especialmente carboidratos processados, que levam ao aumento de peso e a baixos benefícios à saúde ao longo da vida.

 

Há solução?

Paralelamente à divulgação deste estudo, a OMS está produzindo um novo Plano de Implementação para o Fim da Obesidade Infantil (Ending Childhood Obesity – ECHO). O documento oferece aos países informações claras sobre ações efetivas para reduzir a obesidade infantil e do adolescente. A OMS também divulgou diretrizes orientando os profissionais de saúde da linha de frente a identificarem e gerenciarem ativamente seus pacientes com excesso de peso ou obesidade.

Entre as orientações, a OMS sugere que os países busquem reduzir o consumo de alimentos baratos, ultra-processados, ricos em calorias e pobres em nutrientes. Também devem ser intensificados os esforços para reduzir o tempo que as crianças passam em frente ao computador, tablets e celulares, promovendo maior participação em atividades físicas recreativas e esportivas.

A OMS destaca que ações para reduzir a obesidade são elementos-chave para atingir as metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (SDG), um compromisso firmado por chefes de Estado e de Governo e altos representantes que estiveram reunidos na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, em 2015.

O item 2.2 do acordo descreve acabar com todas as formas de desnutrição e atender às necessidades nutricionais dos adolescentes, além de mulheres grávidas, lactantes e pessoas idosas. Já no item 3.4, os países signatários se comprometeram a reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não-transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar, o que incluir, também, a prevenção da obesidade.

 

Outros dados do estudo

O aumento das taxas de obesidade infantil e adolescente em países de baixa e média renda, especialmente na Ásia, recentemente se acelerou. Por outro lado, o aumento da obesidade infantil e de adolescentes em países de alta renda diminuiu e se estabilizou.

Em 2016, as maiores taxas de obesidade foram verificadas na Polinésia e Micronésia, com 25,4% das meninas e 22,4% dos meninos, seguidas de regiões desenvolvidas, como os Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e Reino Unido.

Outras áreas com grande aumento no número de crianças e adolescentes obesos foram o Leste Asiático, Oriente Médio e Norte da África.

 

– Nauru foi o país com maior prevalência de obesidade para meninas (33,4%), e as Ilhas Cook apresentaram o maior número entre os meninos (33,3%).

– Na Europa, meninas em Malta e meninos na Grécia apresentaram as maiores taxas de obesidade, 11,3% e 16,7%, respectivamente. Meninas e meninos na Moldávia apresentaram as taxas de obesidade mais baixas, com 3,2% e 5% da população, respectivamente.

– As meninas no Reino Unido obtiveram a 73ª maior taxa de obesidade do mundo (6ª na Europa); enquanto que os meninos tiveram a 84ª maior (18ª na Europa).

– As meninas nos Estados Unidos ocupavam a 15ª colocação em obesidade do mundo; já os meninos estavam em 12º lugar.

– Entre os países de alta renda, os Estados Unidos da América apresentaram as maiores taxas de obesidade tanto para meninas como para meninos.

– Com relação à desnutrição, a Índia apresentou a maior prevalência de baixo peso moderado e grave nas últimas quatro décadas (24,4% das meninas e 39,3% dos meninos em 1975 e 22,7% e 30,7% em 2016). Em 2016, os números absolutos eram de 97 milhões de crianças e adolescentes.

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