27 de maio de 2016
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Já ouviu falar em Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE)?

Dra. Claudia Cozer Kalil, Fernanda Pisciolaro, Andrea Vargas Soares*

O Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE) é um distúrbio caracterizado por persistentes perturbações alimentares que levam a um aporte nutricional e energético insuficientes. Na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5), houve a inclusão e caracterização do TARE.

A evitação ou a restrição alimentar em alguns indivíduos podem se basear em características como a qualidade do alimento, sensibilidade extrema a aparência, cor, odor, textura, temperatura ou paladar. Esse comportamento foi descrito como “ingestão restritiva”, “ingestão seletiva”, “ingestão exigente”, “ingestão perseverante”, “recusa crônica de alimento” e “neofobia alimentar”.

Indivíduos com sensibilidades sensoriais mais pronunciadas associadas ao autismo podem exibir comportamentos semelhantes. A evitação ou a restrição alimentar também podem representar uma resposta negativa condicionada associada à ingestão alimentar.

O TARE não inclui evitação ou restrição do alimento em virtude da indisponibilidade ou de práticas culturais (p. ex., jejum religioso ou dieta normal) nem comportamentos normais para o desenvolvimento (p. ex., crianças pequenas exigentes para comer, ingestão reduzida em adultos mais velhos).

Os individuos apresentam em sua vivência dificuldades clinicamente significativas com alimentação e comida que geralmente aparecem na infância ou adolescência e não são capazes de se alimentar em quantidade adequada de calorias ou nutrientes por meio de sua dieta habitual.

Existem muitos tipos de problemas alimentares que possam justificar um diagnóstico de TARE, entre eles: dificuldade em digerir certos alimentos; evitação de determinadas cores ou texturas dos alimentos; comer apenas porções muito pequenas de alimentos; falta de apetite; medo de comer depois de um episódio assustador de asfixia ou vómitos.

O TARE traz prejuízos físicos e emocionais, pois pode envolver perda de peso ou insucesso em obter ganho de peso esperado ou crescimento em crianças; deficiências nutricionais, acarretando em uma dependência de alimentação enteral ou suplementos orais; interferência no funcionamento psicossocial; transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos do neurodesenvolvimento (especificamente transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e deficiência intelectual [transtornos do desenvolvimento intelectual]).

Em alguns indivíduos, o TARE pode preceder o aparecimento de outros transtornos alimentares e só deverá ser diagnosticado concomitantemente apenas se todos os critérios forem atendidos para ambos os transtornos e a perturbação alimentar for um foco primário para intervenção.

Deve-se considerar de forma integral os sintomas, o curso e a história familiar para o diagnóstico, que pode ser mais bem feito no contexto de uma relação clínica ao longo do tempo.

Ainda não se sabe ao certo o que pode levar um individuo não querer comer ou não gostar de comer quase nada, mas é fato que a alimentação é um ato extremamente complexo, influenciado por características biológicas, sociais, culturais e emocionais sendo, portanto indispensável que não nos esqueçamos de considera-los na hora em que nos propusermos a ajudar alguém com dificuldades para comer.

Referência:

APA – AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Transtornos Alimentares. In: APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5a ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Sobre as autoras:

Dra. Claudia Cozer Kalil – Doutora em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; coordenadora do núcleo obesidade do Hospital Sírio Libanes

Fernanda Pisciolaro – Nutricionista do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim) do Hospital das Clínicas da FMUSP; membro da ABESO.

Andrea Vargas Soares – Nutricionista do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim) do Hospital das Clínicas da FMUSP.

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