09 de dezembro de 2010
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FDA Aprova Medicamento Antiobesidade

FDA Aprova Medicamento Antiobesidade
Por Beth Santos

Por 13 votos a 7, o Endocrinologic and Metabolic Drugs Advisor Committee, do FDA, EUA,  aprovou ontem o medicamento Contrave para o tratamento da obesidade naquele país. Ele é uma combinação de bupropiona e naltrexone, substâncias já utilizadas isoladamente em outros medicamentos, usados no controle do peso, que estão no mercado.

A decisão do FDA, órgão que controla os medicamentos e os alimentos nos Estados Unidos, já vinha sendo aguardada pelos especialistas desde a retirada da sibutramina do mercado em diversos países. A aprovação foi baseada nos resultados de quatro estudos clínicos fase 3 que indicaram que o medicamento está associado com perda de peso estatisticamente significativa e clinicamente importante, se comparada com placebo.

Segundo o que foi divulgado pela Orexigen, empresa fabricante do Contrave, durante os testes clínicos ocorreram “eventos adversos”, ou efeitos colaterais, no início do tratamento, em geral atenuados com o passar do tempo. Os pesquisadores mencionaram que o perfil de segurança do novo medicamento é semelhante àqueles que utilizam apenas uma das duas substâncias separadamente – bupropiona ou naltrexone.

Durante o processo de decisão, que resultou na aprovação do Contrave, alguns membros do FDA mostraram preocupação com os resultados dos estudos que afirmavam a eficácia do medicamento, assim como pela falta de dados de longo prazo. Eles se mostraram apreensivos com as informações que associam o tratamento ao aumento do risco para a pressão arterial. Alguns não estavam convencidos de que os benefícios do novo fármaco superem os riscos cardiovasculares, ressaltaram que a decisão foi difícil, mas sabiam que, para o tratamento da obesidade, ele é extremamente necessário.

Palavra de Especialista
A presidente da ABESO, endocrinologista Rosana Radominski, fez os seguintes comentários e considerações sobre a notícia da aprovação do Contrave nos EUA:

“O Contrave é uma pílula com a combinação fixa, de liberação prolongada, de duas drogas que, isoladamente, já existem no mercado: o naltrexone ( 36 ou 48mg), um  bloqueador opióide utilizado para o tratamento do alcoolismo e drogadição; e a bupropiona (400mg), medicação utilizada como antidepressivo e  também indicada para o auxílio para parar de fumar. Ambas já foram testadas isoladamente para o tratamento da obesidade. Com a primeira, os resultados foram desanimadores e, com a segunda, houve certa perda de peso. A bupropiona em determinados casos é utilizada para o emagrecimento, mas nunca foi aprovada pelo FDA para este fim.

 Os estudos com a combinação mostraram uma perda de peso significativa ( maior que 5%), com efeitos colaterais de leve a moderados ( cefaléia, obstipação, náuseas, insônia e irritabilidade). Estes efeitos  parecem que são atenuados com a manutenção do tratamento. A aprovação pelos membros do FDA não foi unânime, porque questionou-se possíveis efeitos cardiovasculares, principalmente hipertensão arterial. A aprovação ficou condicionada à apresentação de novos estudos direcionados à segurança da medicação, em longo prazo.
Nós já vimos esta história antes. É muito parecida com a da sibutramina. É inadmissível  a solicitação, feita pelo FDA, para a retirada da sibutramina no mercado (o que o laboratório acatou) , quando a maioria dos estudos mostra que a droga é segura e eficaz para a maioria dos indivíduos.

A sibutramina já está no mercado há mais de 10 anos, e um único estudo de segurança, feito em uma população de indivíduos com mais de 55 anos, apontou quais pacientes não deveriam utilizar a medicação (aqueles com doença cardiovascular com manifestações clínicas graves: infarto, angina pectoris, hipertensão descontrolada e acidente vascular cerebral).

No Brasil, os órgãos competentes (ANVISA) estão sendo inteligentes, pelo menos até agora, em não proibir o uso da medicação – apesar de terem cometido um grande erro em reclassificar a substância como droga com potencial de dependência química (fato não provado cientificamente) e apesar da atitude do laboratório pioneiro (Abbott),  de retirar a sua sibutramina (Reductil) do mercado brasileiro. 
Esperamos que não aconteça com o Contrave o mesmo que aconteceu com o Reductil. O Contrave tem efeitos – tanto  positivos, em perda de peso, como adversos – muito parecidos com os da sibutramina. Os que não respondem à sibutramina ou a outro medicamento antiobesidade, podem responder a esta combinação.

Outra história, não tão recente, ocorreu com o rimonabanto (Acomplia), droga que se mostrou excelente para o tratamento da obesidade visceral e suas complicações. Após ser aprovada nos EUA, Brasil e outros países, e estar sendo comercializada, estudos pós marketing mostraram efeitos no sistema nervoso central, principalmente depressão e maior índice de suicídios, resultados que levaram à suspensão da medicação no mundo inteiro.

Por que os resultados dos estudos clínicos são diferentes dos resultados após a comercialização?
Uma das razões principais é o fato de que os pacientes que participam dos estudos são altamente selecionados, para evitar a presença de efeitos colaterais e, quando a medicação entra no mercado, o uso é  feito por um número enorme de pessoas, sem o controle necessário. Por exemplo, para os estudos com rimonabanto, o paciente era submetido previamente a testes para identificar ideação suicida, sinais de depressão importante etc – sinais estes que impediam a participação do paciente.  Por isto, os eventos adversos foram poucos durante os estudos. Os efeitos colaterais do medicamento foram subestimados, e não enfatizados pelo fabricante, com a comercialização do medicamento. Se fossem tomados os devidos cuidados, talvez ainda tivéssemos o medicamento para o tratamento de um grande número de pacientes. É bom lembrar que não existe medicamento sem efeito colateral, porém a razão benefício/risco tem que ser positiva.  E com as medicações anorexígenas de ação central os eventos adversos são sempre esperados.

Portanto, ainda há um caminho longo a ser percorrido. Vamos ver se o efeito na perda de peso na população geral é semelhante ao dos estudos, vamos ver se os eventos colaterais serão tão leves e passageiros como diz a literatura até agora. Mas, um novo medicamento é sempre bem-vindo, porque, para combater a epidemia do século, o número de medicações disponíveis no mercado é muito pequeno”.


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