Anna Carolina Batista Dantas
Denis Pajecki, departamento de Cirurgia Bariátrica da Abeso
ambos da Unidade de Cirurgia Bariatrica e Metabólica – HCFMUSP
Nas últimas décadas, observamos o aumento muito significativo da incidência de obesidade infantil. À semelhança de adultos obesos, essas crianças e adolescentes passam a desenvolver problemas de saúde ao longo da vida, aos quais chamamos de comorbidades: diabetes, hipertensão, aumento do colesterol, distúrbios do sono, problemas ortopédicos e pior qualidade de vida. Na população jovem, a obesidade tem ainda forte impacto psicossocial, devido à imagem corporal e dificuldades de relacionamento inerentes à faixa etária, com relatos comuns de bullying, depressão e queda do rendimento escolar. Estima-se que mais de 50% dos adolescentes obesos se tornarão adultos obesos e estudos recentes mostram que os problemas de saúde associados à obesidade são frequentes já nessa faixa etária: 20% tem hipertensão, 16% diabetes tipo 2 e 23% tem alterações nos níveis de colesterol.
O combate a essa epidemia começa pela educação nutricional, em casa e nas escolas, estimulando o consumo de alimentos saudáveis e a pratica regular de atividade física. Estudos apontam que até mesmo os cuidados com alimentação que a mãe toma durante a gestação podem influenciar positivamente, diminuindo o risco de obesidade na infância.
O tratamento do sobrepeso e da obesidade infantil se baseia também na mudança de hábitos alimentares e na prática de atividade física. Nesse contexto, o envolvimento da família e a oferta de alimentação saudável em casa e no ambiente escolar são fundamentais.
Em casos extremos, nos quais essas atitudes não são suficientes e no intuito de evitar a piora das comorbidades, a cirurgia bariátrica para adolescentes pode ser uma opção. Nesse campo, sempre houve a preocupação com relação a possíveis complicações e aos efeitos colaterais do tratamento, que possam implicar em prejuízo nutricional e atraso de desenvolvimento. Por esta razão, a indicação desse tipo de tratamento foi vista com ressalva por pediatras e endocrinologistas que cuidam desses pacientes.
Entretanto, na última década, com o advento de procedimentos mais seguros e de técnicas nas quais não se realiza desvio intestinal, a cirurgia bariátrica passou a ser mais indicada para esta população. Atualmente, a gastrectomia vertical (“Sleeve gastrectomy” em inglês) realizada por vídeo laparoscopia é a técnica mais realizada por serviços especializados em cirurgia para adolescentes. A cirurgia com desvio intestinal (“Bypass gástrico”) também é realizada em muitos centros; embora apresente bons resultados em perda de peso, o risco de aparecimento de alguma carência nutricional é maior com este método.
Os critérios de indicação para cirurgia nessa população são mais rígidos quando comparados à população adulta. São considerados candidatos os pacientes com índice de massa corporal (IMC) acima de 50 Kg/m2 independente da presença de comorbidades ou acima de 40 Kg/m2 se houver comorbidades. O preparo antes da cirurgia deve envolver equipe multidisciplinar e avaliação psicológica do paciente e de seus familiares. No Brasil, de acordo com resolução (2.131/2015) de 2015 do Conselho Federal de Medicina (CFM), a cirurgia pode ser feita para adolescentes entre 16 e 18 anos respeitando os seguintes critérios:
– Concordância dos pais ou responsáveis
– Presença de pediatra na equipe multidisciplinar
– Consolidação das cartilagens das epífises de crescimento dos punhos (observada por meio de RX dos punhos, que demonstra o completo desenvolvimento ósseo do paciente)
O paciente adolescente e seus familiares, que procuram tratamento cirúrgico para obesidade devem conhecer as opções e expectativas do tratamento: independente da idade, é necessário um bom preparo pré-operatório, acompanhamento multidisciplinar, adesão à dieta e melhora na prática de atividade fisica.
Dúvidas frequentes
Acredita-se que os resultados também sejam bons nessa faixa etária mais jovem, mas o CFM recomenda que esses casos sejam analisados individualmente e operados apenas em protocolos de pesquisa, em instituições especializadas.
Não, desde que cumprida a orientação de que apenas os indivíduos com maturidade óssea sejam operados. Caso contrário poderá haver prejuízo no desenvolvimento.
Não. Existem atualmente várias opções técnicas de cirurgia bariátrica, sendo as mais comuns o by-pass gástrico e a gastrectomia vertical. Ambas são feitas de maneira semelhante em adolescentes, adultos ou idosos. Mas como a Gastrectomia Vertical não tem desvio intestinal, acarretando em menor risco nutricional, tem sido realizada com mais frequência para adolescentes.