27 de outubro de 2017
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Cirurgia bariátrica para adolescentes

Anna Carolina Batista Dantas

Denis Pajecki, departamento de Cirurgia Bariátrica da Abeso

ambos da Unidade de Cirurgia Bariatrica e Metabólica – HCFMUSP

Nas últimas décadas, observamos o aumento muito significativo da incidência de obesidade infantil. À semelhança de adultos obesos, essas crianças e adolescentes passam a desenvolver problemas de saúde ao longo da vida, aos quais chamamos de comorbidades: diabetes, hipertensão, aumento do colesterol, distúrbios do sono, problemas ortopédicos e pior qualidade de vida. Na população jovem, a obesidade tem ainda forte impacto psicossocial, devido à imagem corporal e dificuldades de relacionamento inerentes à faixa etária, com relatos comuns de bullying, depressão e queda do rendimento escolar. Estima-se que mais de 50% dos adolescentes obesos se tornarão adultos obesos e estudos recentes mostram que os problemas de saúde associados à obesidade são frequentes já nessa faixa etária: 20% tem hipertensão, 16% diabetes tipo 2 e 23% tem alterações nos níveis de colesterol.

O combate a essa epidemia começa pela educação nutricional, em casa e nas escolas, estimulando o consumo de alimentos saudáveis e a pratica regular de atividade física. Estudos apontam que até mesmo os cuidados com alimentação que a mãe toma durante a gestação podem influenciar positivamente, diminuindo o risco de obesidade na infância.

O tratamento do sobrepeso e da obesidade infantil se baseia também na mudança de hábitos alimentares e na prática de atividade física. Nesse contexto, o envolvimento da família e a oferta de alimentação saudável em casa e no ambiente escolar são fundamentais.

Em casos extremos, nos quais essas atitudes não são suficientes e no intuito de evitar a piora das comorbidades, a cirurgia bariátrica para adolescentes pode ser uma opção. Nesse campo, sempre houve a preocupação com relação a possíveis complicações e aos efeitos colaterais do tratamento, que possam implicar em prejuízo nutricional e atraso de desenvolvimento. Por esta razão, a indicação desse tipo de tratamento foi vista com ressalva por pediatras e endocrinologistas que cuidam desses pacientes.

Entretanto, na última década, com o advento de procedimentos mais seguros e de técnicas nas quais não se realiza desvio intestinal, a cirurgia bariátrica passou a ser mais indicada para esta população. Atualmente, a gastrectomia vertical (“Sleeve gastrectomy” em inglês) realizada por vídeo laparoscopia é a técnica mais realizada por serviços especializados em cirurgia para adolescentes. A cirurgia com desvio intestinal (“Bypass gástrico”) também é realizada em muitos centros; embora apresente bons resultados em perda de peso, o risco de aparecimento de alguma carência nutricional é maior com este método.

Os critérios de indicação para cirurgia nessa população são mais rígidos quando comparados à população adulta. São considerados candidatos os pacientes com índice de massa corporal (IMC) acima de 50 Kg/m2 independente da presença de comorbidades ou acima de 40 Kg/m2 se houver comorbidades. O preparo antes da cirurgia deve envolver equipe multidisciplinar e avaliação psicológica do paciente e de seus familiares. No Brasil, de acordo com resolução (2.131/2015) de 2015 do Conselho Federal de Medicina (CFM), a cirurgia pode ser feita para adolescentes entre 16 e 18 anos respeitando os seguintes critérios:

– Concordância dos pais ou responsáveis

– Presença de pediatra na equipe multidisciplinar

– Consolidação das cartilagens das epífises de crescimento dos punhos (observada por meio de RX dos punhos, que demonstra o completo desenvolvimento ósseo do paciente)

O paciente adolescente e seus familiares, que procuram tratamento cirúrgico para obesidade devem conhecer as opções e expectativas do tratamento: independente da idade, é necessário um bom preparo pré-operatório, acompanhamento multidisciplinar, adesão à dieta e melhora na prática de atividade fisica.

Dúvidas frequentes

  • Meu filho é obeso mas tem menos que 16 anos. Podemos operar mesmo assim?

Acredita-se que os resultados também sejam bons nessa faixa etária mais jovem, mas o CFM recomenda que esses casos sejam analisados individualmente e operados apenas em protocolos de pesquisa, em instituições especializadas.

  • A cirurgia pode afetar o crescimento do adolescente?

Não, desde que cumprida a orientação de que apenas os indivíduos com maturidade óssea sejam operados. Caso contrário poderá haver prejuízo no desenvolvimento.

  • A cirurgia para o adolescente é diferente do adulto?

Não. Existem atualmente várias opções técnicas de cirurgia bariátrica, sendo as mais comuns o by-pass gástrico e a gastrectomia vertical. Ambas são feitas de maneira semelhante em adolescentes, adultos ou idosos. Mas como a Gastrectomia Vertical não tem desvio intestinal, acarretando em menor risco nutricional, tem sido realizada com mais frequência para adolescentes.

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