08 de abril de 2023
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A história de Erica Gaya

O depoimento abaixo faz parte de uma série de textos enviados por pessoas com obesidade e selecionados para a nossa campanha, realizada ao lado da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Síndrome Metabólica) e da World Obesity Federation

Ele foi enviado por Erica Gaya de Figueiredo, de Belo Horizonte. Leia a seguir.

Quando eu tinha 9 anos, meus exames de sangue de rotina vieram alterados. Nessa época, meu pai vinha batalhando contra um câncer de garganta há três anos — batalha que ele perdeu 2 anos depois. 

Comecei uma dieta que era basicamente frango e arroz para testar se meu colesterol diminuiria sem remédios. Diminuiu. E comecei uma guerra contra a minha alimentação e o meu peso.

Todo o resto da minha infância, adolescência e vida adulta foram — e são — permeados pelo ódio ao meu corpo, por uma baixíssima autoestima e pela incapacidade de me sentir amável. 

Não existem inocentes na minha história. Minha família, meus amigos, a mídia, médicos e nutricionistas, a sociedade e eu mesma. Todos fomos gordofóbicos e fomentamos uma espiral insana de perda de peso que destruiu minha saúde mental, me levando a episódios de compulsão.

Lembro-me de um recreio na escola que minha lancheira tinha uma manga e um leite de soja de uva. As meninas à minha volta, que eu considerava como amigas, me olhavam com pena enquanto bebiam refri e tinham corpos mais magros que o meu. E eu não era gorda, apesar de me achar imensa e até nojenta. 

Tem sido sempre assim – eu me me odeio em fotos e, anos depois, olho para essas mesmas fotografias e penso: ‘era esse o meu corpo?’ Corpo normal, era saudável. Mas me  achava um monstro. 

Eu sou uma mulher branca, de classe média, com acesso à educação, à saúde, a alimentos orgânicos — e sou obesa. Mesmo vivendo com tantos privilégios, existir em um mundo que não foi construído para suportar meu corpo é frustrante e humilhante. As roupas são caras, os colchões deformam, as cadeiras se quebram e o tempo todo minha cabeça repete o mantra da minha vida: “é só perder peso”, por mais irracional que seja.

Hoje vivo com o meu maior peso e tento desconstruir todo o veneno que se instalou em minha mente contra eu mesma. Tento fazer o que é melhor pra mim. Tento me olhar com neutralidade. Tento estar e ser melhor.”

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