Os estudos de estigma de peso geralmente são realizados com o público feminino, fazendo com que haja muito pouca informação sobre a existência do problema entre os homens. Enquanto é frequente a abordagem do assunto por mulheres, eles permanecem em segundo plano. O estudo Weight Stigma in Men: What, When, and by Whom?, publicado na revista Obesity, é a primeira análise abrangente do estigma de peso realizada exclusivamente com o público masculino.
Os resultados foram surpreendentes: aproximadamente 40% dos participantes já sofreram algum tipo de estigma por conta do peso. Estes dados desvendam a falsa impressão de que os homens não são afetados pelo estigma de peso, destacando a necessidade de incluí-los em pesquisas sobre o problema.
A principal autora do estudo, Dra. Mary Himmelstein, afirma que os dados obtidos mostram que os homens também estão sofrendo com preconceito, discriminação e outras formas de violência relacionadas ao peso, o que sugere que é importante entender e examinar possíveis diferenças de gênero neste assunto.
Melhorar a compreensão do estigma de peso entre os homens também pode abrir caminhos sobre como as experiências negativas podem exacerbar a saúde dos homens e verificar se isso acontece de forma semelhantes às mulheres.
Os participantes do estudo
Participaram do estudo 1513 homens, entre eles membros da Obesity Action Coalition, (OAC). O OAC é uma organização nacional sem fins lucrativos, que apoia indivíduos obesos por meio de educação e defesa de direitos. Muitos dos indivíduos deste grupo estavam, no momento do estudo, tentando perder peso. Também neste grupo foram detectados os níveis mais elevados de estigma.
Assim como os membros do OAC, todos os demais participantes completaram pesquisas on-line entre julho de 2015 e outubro de 2016. Nas amostras, foram respondidas perguntas sobre dados demográficos, antropométricos, idade, renda, nível educacional, etnia, estado civil, comportamento alimentar e histórico de situações de estigma relacionado ao peso.
Os participantes também relataram se haviam feito dieta no ano anterior para perder peso intencionalmente, bem como suas metas de peso no ato do preenchimento.
Os questionários registraram, ainda, o maior peso corporal e a categoria de peso subjetiva. Ou seja, os participantes deveriam se descrever como “baixo peso”, “peso adequado”, “excesso de peso” ou “obesidade”.
Por fim, os participantes indicaram se já haviam sido provocados, tratados injustamente ou discriminados por causa de seu peso por meio de três perguntas do tipo “sim” ou “não”. Ao assinalar “sim” para qualquer uma das três questões, recebiam perguntas adicionais sobre a fase da vida (infância, adolescência, vida adulta) em que ocorreram as experiências. Os participantes descreveram, nestes casos, os autores dos incidentes, incluindo colegas e amigos, membros da família, estranhos, profissionais de saúde, chefes, professores e outros.
Os resultados
Aproximadamente 40% dos homens relataram ter sentido, em algum momento da vida, estigma de peso. Isso aconteceu especialmente entre indivíduos obesos, mas também com os que apresentaram baixo peso.
Os homens que relataram terem sido vítimas de estigma foram os mais jovens, solteiros, com IMC mais alto e maior probabilidade de ter tentado perder peso no último ano, com relação aos que não relataram episódios de estigma.
Os homens que apresentaram estigma de peso foram mais vulneráveis a essas experiências na adolescência (58,9%), seguidos pela infância (52,0%) e a idade adulta (37,5%). Os maus-tratos verbais foram a forma mais comum de estigma de peso, independentemente da idade. Os maus-tratos físicos foram mais comuns na infância e adolescência (19,3% na adolescência e 19% na infância) do que na idade adulta (7,2%). As barreiras físicas, como por exemplo instalações médicas sem equipamentos de tamanho adequado para pacientes com alta peso corporal, foram as menos relatadas em todas as fases da vida (7,7% na infância, 6,2% na adolescência e 7,9% na idade adulta). Os agressores mais comuns foram os colegas e amigos (61%), familiares (41,7%) e estranhos (35,7%).
O estigma entre homes e mulheres
A análise sobre as circunstâncias da violência baseada no peso constatou que os efeitos podem ser mais semelhantes entre homens e mulheres do que se pensava. Independentemente das diferenças de gênero, é importante compreender significativamente as experiências do estigma de peso em homens e mulheres.
Algumas diferenças entre homens e mulheres foram observadas em diferentes níveis de peso corporal. Entre as mulheres, os relatos de estigma de peso tendem a seguir um padrão linear, com o aumento do estigma à medida que o IMC aumenta. A trajetória masculina revelou-se quadrática, ou em forma de U, com mais episódios entre homens com baixo peso ou obesidade, e menos entre aqueles com excesso de peso ou peso adequado.
A autopercepção de peso também difere entre homens e mulheres, o que pode ser importante para relatos de experiências de estigmatização de peso. Em relação às mulheres, os homens se percebem com excesso de peso com um IMC mais alto. As mulheres se percebem acima do peso com um IMC de 23,7, o que é inconsistente com as definições clínicas de excesso de peso. Já as percepções de excesso de peso dos homens estão mais alinhadas com diretrizes, que são IMC acima de 25.
Conclusões
O estigma de peso é prejudicial à saúde, contribuindo para a obesidade, doença metabólica, distúrbios psicológicos e inclusive para a mortalidade. Poucos estudos concentram-se na prevalência ou nas consequências do estigma do peso em homens. Quando os homens são incluídos nos estudos, as análises geralmente se concentram nas mulheres, deixando os participantes do sexo masculino apenas como controle demográfico e não como uma variável significativa para comparação de experiências de estigmatização de peso.
Assim, em comparação com as mulheres, pouco se sabe sobre os diferentes tipos de estigma de peso experimentados pelos homens, a presença dessas experiências em diferentes períodos da vida ou quem são os autores mais comuns das ofensas.
Os presentes achados sugerem que é grande a proporção de homens que admite ter sofrido com o estigma de peso. As proporções dentro de cada categoria de IMC variaram, mas é fato que é necessários apoiá-los e ajudá-los a adotar estratégias de enfrentamento eficazes para lidar com o estigma de peso, auxiliando a reduzir os prejuízos destas experiências.
Para o presidente da Obesity Action Coalition, Dr. Joe Nadglowski, o preconceito de peso não reconhece se alguém é do sexo feminino ou masculino. Todos os indivíduos com obesidade tendem a sofrer preconceito em algum momento.
Limitações do estudo
Várias limitações deste estudo devem ser observadas, como por exemplo a falta de informações adicionais sobre os termos: “verbal”, “físico”, “barreira física”, quanto ao tipo de estigma sofrido.
É possível que alguns participantes não tenham entendido o significado de um ou mais desses termos, particularmente “barreira física”, o que poderia, em parte, refletir a baixa taxa de resposta a esse tipo de incidente.
Pesquisas futuras sobre o tema deverão fornecer aos participantes explicações mais abrangentes ou exemplos de termos similares.
Também são necessários mais estudos envolvendo indivíduos com baixo peso, pois a porcentagem geral de homens com IMC baixo neste estudo foi muito pequena.