07 de março de 2018
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Genes encontrados na população da Groenlândia apontam caminho para vencer a obesidade

A edição atual da revista científica Nature Genetics traz um estudo realizado junto aos inuits, população nativa da Groenlândia. Neles, pesquisadores identificaram a variação de um gene, que poderia abrir caminho para a cura da obesidade. A variante ADCY3 aumenta o índice de massa corporal (IMC) em um a cada 25 groenlandeses. No caso daqueles que herdam duas cópias da variante, foi verificada a presença de obesidade e diabetes tipo 2.

De acordo com o autor principal do estudo, Dr. Torben Hansen, diretor científico e professor de Genômica Metabólica na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, essa descoberta pode, um dia, ser a chave para reverter a epidemia global de obesidade. Segundo o pesquisador, ao aumentar a atividade do gene em camundongos, eles se tornam resistentes à obesidade. O próximo passo será entender como o gene funciona, para então encontrar uma maneira de ativá-lo nas pessoas com excesso de peso e auxiliá-las a atingir o peso adequado.

Este estudo é apenas um dos três já realizados para estudar o gene ADCY3. Assim como este, também os anteriores demonstram uma conexão entre a versão danificada do gene e o aumento das chances de desenvolver obesidade e diabetes tipo 2. Um dos estudos, inclusive, demonstra que o gene tem um papel na regulação do apetite e metabolismo dos camundongos. O outro identifica variantes genéticas raras em ADCY3 entre membros de famílias paquistanesas, nas quais alguns indivíduos desenvolveram obesidade severa, inclusive crianças.

 

Variante genética e peso

Comparando dados de saúde e material genético de cinco mil Inuit da Groenlândia, os cientistas encontraram em 4% deles uma variante danificada de ADCY3.

Esta variante parece impedir que o gene funcione como deveria, fazendo com que as pessoas pesem, em média, 2 kg a mais do que a média e tenham 2 cm a mais de circunferência abdominal. Também são mais propensos a desenvolver diabetes tipo 2.

Aqueles que carregam duas cópias do gene pesam, em média, 15 kg a mais, com 17 cm a mais de circunferência abdominal.

Ao estudar grandes bancos de dados do genoma de indivíduos não-inuit, os cientistas descobriram oito portadores das variantes de ADCY3 com perda de função. Sete, dos oito portadores, tiveram diabetes tipo 2.

De acordo com o Dr. Hansen, esta parece ser uma forma muito grave de obesidade hereditária, associada ao gene disfuncional ACDY3. Este gene é completamente novo, não tendo sido descrito, até então, em seres humanos.

 

O tratamento dos inuit

Para os inuit da Groenlândia, os novos resultados são muito relevantes, visto que um em cada 25 deles carrega a variante do gene, aumentando o risco para obesidade e diabetes tipo 2.

Uma criança nascida a partir de dois portadores do gene é 25% propensa a transportar duas cópias do gene. É, também, quase certo que desenvolverá obesidade grave e diabetes tipo 2.

Para os pesquisadores, resta descobrir se as opções atuais de tratamento para obesidade severa funcionam para esse grupo de pessoas.

O tratamento em laboratório

De acordo com o Dr. Torben Hansen, a nova descoberta pode apontar para o futuro do tratamento da obesidade. Experiências mostram que camundongos geneticamente modificados com um gene ADCY3 danificado desenvolvem obesidade. Já ao aumentar a atividade da versão intacta do gene nos ratos, não houve a obesidade.

No entanto, não é possível simplesmente modificar genes nos seres humanos. A descoberta apenas fornece uma nova visão dos mecanismos por trás da obesidade, o que poderia ser um alvo para futuros tratamentos.

 

Obesidade e hereditariedade

Os achados deste estudo destacam que a causa genética da obesidade e do diabetes tipo 2 pode variar em diferentes populações. Mais pesquisas são necessárias sobre as causas específicas da obesidade e de outras doenças em diferentes populações.

O próximo passo para estes pesquisadores, agora, será estudar os mecanismos por trás da variante ADYC3.

Para eles, o gene pode estar relacionado à regulação do apetite. Novos testes serão realizados em laboratório, danificando o gene de camundongos em vários lugares do cérebro e monitorando seu efeito. Assim, poderão verificar quais regiões do cérebro estão ligadas à função desse gene.

Fonte:

Nature

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