As integrantes do nosso Departamento de Nutrição — as doutoras Renata Bressan, Ana Maria Pita Lottenberg, Heloísa Theodoro e Márcia Magalhães — responderam algumas das principais dúvidas que vêm à tona quando o assunto é Páscoa e, claro, chocolate, no contexto de prevenir o ganho de peso e controlar a obesidade.
A grande mensagem é: nada de exageros, nem de grandes restrições. É possível celebrar a Páscoa com bom senso e equilíbrio, saboreando os encontros e um pouco do chocolate favorito, por que não?
1. Queria evitar comer chocolate, mas chega a Páscoa e tenho vontade de ganhar um ovo! O que fazer?
Renata Bressan — Se é assim, compre um ovo de Páscoa. Mas, para calcular o tamanho, pense em quantas pessoas estarão juntas para compartilhar ou, se for só para você, compre um ovo bem pequeno. Afinal, se for maior, terá de ter muito controle para comer apenas uns 30 gramas por dia, que é o ideal. E nem todo mundo consegue se controlar diante de um chocolate.
2. Branco, ao leite ou 70% cacau, qual seria o melhor chocolate para consumir?
Renata Bressan — Como é um consumo pontual, ao meu ver é importante que a pessoa escolha o que mais gosta. Aquela história de que ela deveria sempre preferir o 70% cacau, porque isso seria melhor, se ela nem gostar tanto de um chocolate mais amargo, vai continuar com vontade e querendo mais doce. De qualquer forma, esse tipo — o 70% — tem de fato menos açúcar e menos leite também, que acabaria aumentando o conteúdo de gorduras saturadas associadas a problemas cardiovasculares. Portanto, o chocolate amargo seria o mais indicado? No fundo, sim. Mas, de novo, para um consumo muito pontual, escolha o seu favorito.
3. E se a gente compara o chocolate convencional com o diet, a troca compensa para quem está em tratamento da obesidade?
Heloísa Theodoro — Os alimentos diet têm a isenção de um ingrediente que, no caso do chocolate, é o açúcar. Mas isso não significa que esse chocolate terá menos calorias, pois muitas vezes contém mais gorduras para que o sabor e textura fiquem adequados. Portanto, pessoas com obesidade não precisam substituir o chocolate convencional pelo diet, mas preferir aqueles com maior teor de cacau e menor quantidade de açúcar. O ideal é comer com atenção, pequenas quantidades, apreciando o momento, sem exageros.
4. Qual seria a melhor estratégia, se você ganhar uma grande quantidade de ovos de Páscoa?
Renata Bressan — Isso acontece muito em casas com crianças, que ganham ovos dos tios, dos avós… Minha dica, então, que vale para a meninada e para os adultos, é escolher um único ovo para abrir no domingo de Páscoa e deixar os outros para ir consumindo, no máximo, um por semana — e, mesmo assim, sempre compartilhando com outras pessoas da casa. Lembre-se: a porção ideal é de uns 30 gramas de chocolate por dia, no máximo. Se a quantidade for realmente muito grande, guarde alguns para os próximos meses, observando e seguindo a ordem do prazo de validade.
Costumo sugerir aos profissionais de saúde, quando ganham muito chocolate como demonstração de carinho dos pacientes, que levem ao consultório para compartilhar com a equipe, por exemplo. E o mesmo vale para quem trabalha em outras áreas. É uma dica boa para todo mundo: compartilhar e não ficar com muito chocolate em casa.
5. Qual seria a melhor escolha, comer ovo de chocolate ou colomba pascal?
Renata Bressan — Não dá para comparar: tem gente que adora ovo de Páscoa e tem gente que prefere a colomba. E existe, ainda, quem goste muito dos dois. Se estamos falando de um consumo moderado — e esta é a principal questão, isto é, ser um consumo moderado — tanto faz. Até porque não estamos falando de um consumo frequente, mas de algo muito pontual.
No caso da colomba, repito a recomendação que dou para o panetone do Natal: se for para comprar, será para compartilhar com a família e os amigos. Agora, se só você gosta, leve para casa uma unidade pequena, individual, que é uma opção que já existe no mercado, para comer neste domingo de Páscoa — e só.
6. Para quem se submeteu à cirurgia bariátrica, os excessos da Páscoa podem causar síndrome de dumping?
Márcia Magalhães — A síndrome de dumping acontece quando o alimento sai muito rápido do estômago e entra no intestino delgado, o que pode causar sintomas como náuseas, tonturas, palpitações, suor frio, sonolência ou fraqueza, queda de pressão e até diarreias. O chocolate pode causar dumping, sim, porque costuma ter muito açúcar em sua composição. E o açúcar é o principal gatilho para o dumping. Sem contar a gordura que, também, é capaz de agravar os seus sintomas.
7. Existe algo que o paciente que passou pela bariátrica possa fazer para evitar o dumping com chocolate?
Márcia Magalhães — Ele deve preferir chocolate amargo (acima de 70% de cacau) e sempre em pequenas quantidades. Bom evitar aqueles com recheio cremoso ou muito açúcar. Também não deve substituir refeições por chocolates e outros doces. Melhor ir saboreando devagar e observando como o corpo reage. O mais importante é seguir o plano alimentar orientado pelo seu nutricionista da equipe de bariátrica.
8. Se a pessoa comer chocolate junto com outros alimentos, isso ajudaria?
Ana Maria Pita Lottenberg — O chocolate é um alimento muito saboroso, porém altamente calórico e rico em gorduras e açúcares. Por questões culturais, seu consumo aumenta significativamente na Páscoa. É importante notar que consumi-lo junto com as refeições ou em combinação com outros alimentos não altera seu valor energético, nem traz benefícios para o controle do peso corporal.
9. Para os chocólatras, como é possível reduzir a mania pelo doce?
Ana Maria Pita Lottenberg — A primeira dica é realizar refeições balanceadas, compostas por grãos integrais, hortaliças, carnes magras e frutas. Isso pode proporcionar maior saciedade e reduzir o desejo de consumir quantidades exageradas de chocolate, para aproveitá-lo de forma mais consciente e equilibrada durante a Páscoa.