Um grande estudo sobre os efeitos do excesso de peso e da obesidade na saúde nos últimos 25 anos acaba de ser publicado na edição de julho do The New England Journal of Medicine e chama a atenção para os dados alarmantes no mundo inteiro.
Em Health Effects of Overweight and Obesity in 195 Countries over 25 Years, pesquisadores analisaram dados de 68,5 milhões de pessoas para avaliar as tendências da prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e adultos, bem como as doenças relacionadas ao Índice de Massa Corporal (IMC).
O acompanhamento foi realizado entre 1980 e 2015, utilizando os dados e métodos do estudo Global Burden of Disease.
Em 2015, estima-se que haviam cerca de 107,7 milhões de crianças e 603,7 milhões de adultos obesos. Isso significa que a prevalência de obesidade dobrou em mais de 70 países e aumentou continuamente na maioria dos demais países, desde 1980.
Embora a prevalência de obesidade infantil tenha sido menor do que a dos adultos, a taxa de aumento da obesidade em crianças em muitos países tem sido maior do que a adulta.
O IMC elevado representou 4 milhões de mortes em todo o mundo, com aproximadamente dois terços relacionados a doenças cardiovasculares.
A obesidade nas crianças e nos adultos
A prevalência de sobrepeso e obesidade está aumentando em todo o mundo. Estudos epidemiológicos identificaram o IMC como fator de risco para um conjunto crescente de doenças crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, doença renal crônica, alguns tipos de câncer e uma série de distúrbios músculo-esqueléticos. À medida que a comunidade de saúde global trabalha para desenvolver tratamentos e políticas de prevenção para enfrentar a obesidade, é necessária atenção especial sobre os níveis de IMC elevado e os efeitos sobre a saúde da população.
O estudo estimou sistematicamente a prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças (<20 anos de idade) e adultos, de 1980 a 2015. Usando a abordagem comparativa de avaliação de risco do estudo Global Burden of Disease, também quantificou as doenças relacionadas ao IMC elevado durante o período de 1990 a 2015, considerando mortes e anos de vida de incapacidade devido ao IMC elevado.
Em 2015, foram estimadas pelo estudo 107,7 milhões de crianças e 603,7 milhões de adultos obesos em todo o mundo.
A prevalência geral de obesidade foi de 5% entre as crianças e 12% entre os adultos. Nos adultos, a prevalência foi maior entre as mulheres em todas as faixas etárias.
O pico da prevalência de obesidade foi observado nas mulheres de 60 a 64 anos e, nos homens, dos 50 aos 54 anos. Para ambos os grupos, as taxas de aumento foram maiores no início da idade adulta.
Entre as crianças, a prevalência de obesidade em 2015 diminuiu com a idade até os 14 anos e, em seguida, aumentou. Não foram observadas diferenças de sexo na prevalência de obesidade antes dos 20 anos de idade.
Distribuição geográfica da obesidade
Em 2015, entre os 20 países mais populosos, observou-se o maior nível de obesidade no adulto no Egito (35,3%), e o maior nível de obesidade infantil nos Estados Unidos (12,7%). A prevalência foi mais baixa entre os adultos no Vietnã (1,6%) e entre as crianças de Bangladesh (1,2%).
Em números absolutos, a China e a Índia tinham o maior número de crianças obesas em 2015, enquanto os Estados Unidos e a China tinham o maior número de adultos obesos.
Morte e incapacidade
Em 2015, o IMC elevado contribuiu para 4 milhões de mortes, o que representou 7,1% do total de mortes por qualquer causa. Também levou a 120 milhões de anos de vida com deficiência. Um total de 39% destas mortes e 37% dos anos de vida com deficiência ocorreram em pessoas com IMC inferior a 30.
A doença cardiovascular foi a principal causa de morte e de deficiência relacionados ao IMC elevado, representando 2,7 milhões de óbitos. Globalmente, 41% das mortes e 34% dos anos de vida com incapacidade relacionadas ao IMC foram atribuídos a doenças cardiovasculares em pessoas obesas.
O diabetes foi a segunda causa de óbitos relacionados ao IMC em 2015 e contribuiu para 0,6 milhão de óbitos e 30,4 milhões de anos de vida com incapacidade.
Entre todas as mortes relacionadas ao IMC devido ao diabetes, 9,5% ocorreram em um IMC de 30 ou mais, e 4,5% em IMC inferior a 30.
A doença renal crônica foi a segunda principal causa de incapacidade relacionada ao IMC em 2015. A vidas destas pessoas foi comprometida em 18% do tempo por deficiência em pessoas com IMC de 30 ou mais, e 7,2% para IMC inferior a 30.
A doença renal crônica e os cânceres representaram menos de 10% de todas as mortes relacionadas ao IMC, em 2015.
Em 2015, entre os 20 países mais populosos, foram observadas as taxas mais altas de mortalidade e deficiências relacionadas ao IMC na Rússia, enquanto que as taxas mais baixas estavam na República Democrática do Congo.
Entre 1990 e 2015, as maiores mudanças percentuais em mortes relacionadas ao IMC e deficiências ocorreram em Bangladesh, com aumentos relativos de 133,6% e 139,4%, respectivamente.
Durante o mesmo período, a Turquia apresentou a maior redução significativa, com queda de 43,7% em mortes e 37,2% em incapacidade.
Obesidade: um problema global
Em todos os níveis de desenvolvimento, a prevalência de obesidade aumentou nas últimas décadas, o que indica que o problema não é simplesmente uma questão de renda.
O aumento da disponibilidade, acessibilidade e densidade calórica, juntamente com o marketing intenso de tais alimentos, pode explicar o excesso de consumo de energia e o aumento de peso entre diferentes populações.
A redução da realização de atividade física, que seguiu a urbanização e outras mudanças no dia a dia da população, também devem ser consideradas como potenciais motivos.
Nesta situação, governos de países em todo o mundo devem seguir em busca de políticas de intervenções para reduzir a obesidade e os riscos a ela relacionados.
Conclusão
O estudo, ao final, forneceu uma avaliação bastante abrangente das tendências do IMC elevado e da carga de doenças a ele associadas. Os resultados mostraram que tanto a prevalência, como a carga de doenças relacionadas ao IMC elevado estão aumentando globalmente. As descobertas evidenciam, portanto, a necessidade de implementação de intervenções urgentes para alterar este cenário.
Atenta a estes problemas, em 2013, a Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou aumento zero na prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e adultos. No entanto, após o estudo, e cientes do ritmo atual de aumento de peso e dos desafios existentes na implementação de políticas alimentares, os pesquisadores preveem que alcançar este objetivo seja improvável no futuro próximo.
Os pesquisadores também apontam algumas das intervenções que têm obtido êxito e devem continuar e ser expandidas aos países que ainda não possuem, como a restrição da publicidade de alimentos pouco saudáveis para as crianças, melhora das refeições oferecidas nas escolas e a utilização da tributação elevada para reduzir o consumo de alimentos não saudáveis, fornecendo subsídios para aumentar a ingestão de alimentos saudáveis e incentivando a cadeia de fornecimento e produção de alimentos saudáveis.