17 de agosto de 2012
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Custos de Doenças Ligadas à Obesidade para o SUS

Custos de Doenças Ligadas à Obesidade para o SUS 

Artigo publicado recentemente no jornal científico BMC Public Health, voltado para os aspectos epidemiológicos das doenças, revela que o custo total, para o SUS, estimado para um ano com todas as doenças relacionadas ao sobrepeso e à obesidade – câncer, diabetes e cardiológicas – é de US$ 20.152.102.171. As hospitalizações custam US$ 1.472.742.952, e os procedimentos de ambulatório, US$ 679.353.348.

O artigo, realizado na Universidade do Estado do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) por uma equipe de especialistas , teve seus dados coletados entre 2008 e 2010. Trata-se de um dos raros estudos sobre o assunto no país.

O trabalho começa com uma constatação: nas últimas décadas, a obesidade avançou para uma epidemia global.  A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 2005, que aproximadamente 1,6 bilhões de adultos estavam acima do peso e, ao menos 400 milhões, eram obesos.  A OMS também previu que, até 2015, cerca de 2,3 bilhões de adultos estarão acima do peso e mais de 700 milhões serão obesos. No Brasil, duas pesquisas nacionais da população adulta mostraram que a taxa de sobrepeso e obesidade cresceu, nos últimos quatro anos, de 43% para 48.1% e de 11% para 15% para o sobrepeso e a obesidade, respectivamente.

O sobrepeso e a obesidade são fatores de risco para doenças crônicas, como câncer, diabetes e doenças relacionadas ao coração que, por sua vez, são responsáveis por despesas com a saúde, deficiências e morte. O número estimado de obesidade levando ao câncer é alto e inclui câncer no pâncreas, cólon, seios e endometriose.  

Os custos econômicos com obesidade têm se tornado preocupantes nos últimos anos. O custo de uma doença pode ser medido pelo impacto financeiro no sistema de saúde (custos diretos) e pela perda da produtividade e qualidade de vida (custos indiretos) da sociedade e do indivíduo. 

A obesidade se mostra o maior desafio da saúde, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil, e os custos são substanciais, mesmo que desconhecidos na maior parte dos sistemas de saúde. O objetivo principal do estudo é fornecer uma estimativa dos custos diretos associados nos cuidados de ambulatório e hospitalização de pacientes acima do peso e obesos na perspectiva do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Sobre os Métodos

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        Risco Atribuível à População(Population attributable risk -PAR)

Orisco atribuível à população é a proporção de incidência de uma doença na população devido à sua exposição a um fator particular de risco. Ele mede a incidência de uma doença que seria erradicada caso sua exposição a essa população fosse suprimida. 

Dois grupos foram utilizados para a estimativa do PAR: indivíduos acima do peso (Índice de Massa Corporal 25-29kg/m2) e obesos (IMC ≥ 30Kg/m2).

As doenças relacionadas foram selecionadas para o cálculo do PAR caso sua relação com o sobrepeso e obesidade seguisse os seguintes parâmetros: risco relativo (Relative Risk – RR) ≥ 1.20 ou RR ≥1.10 e <1.20, e se mostrassem em alta taxa no sistema de cuidado médico. 

·        Fontes de estimativas de risco relativo

Primeiro, os especialistas procuraram por meta-análises que apresentassem estimativas de risco relativo (RR) da presença de sobrepeso e obesidade. Então, buscaram um grande número de estudos publicados depois do período relacionado às meta-análises. Conduziram uma busca em duas fontes de informação, Medline and Scopus.

·        Fontes populacionais para a estimativa 

Os índices de sobrepeso e obesidade por indivíduos de 18 anos ou mais foram obtidos por uma análise nacional, recente, chamada estudo VIGITEL, que realizou entrevistas telefônicas com 54.339 indivíduos, 20.764 homens e 33.575 mulheres.  Esse estudo fez o uso de autorrelato de peso e altura para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). A pesquisa, então, apresentou as taxas de sobrepeso e obesidade separadas por gênero. 

·        Estimativa de custos

A fonte de dados DATASUS foi utilizada para a estimativa do custo anual do Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS) com doenças relacionadas à análise. Essa fonte de dados oferece o valor que o governo destina às organizações que se dedicam ao cuidado com a saúde pública (ambulatórios e hospitalizações). Os valores extraídos do DATASUS foram separados por sexo, tipo de serviço (ambulatórios e internações) e ano. Os resultados foram coletados de 2008 a 2010 e refletem a média desses três anos. 

Os Resultados

A influência do sobrepeso e da obesidade nas doenças selecionadas variam muito, de 2% para o câncer de mama (sobrepeso) a 66.43% para diabetes mellitus tipo 2 (obesidade).  

O custo total estimado para um ano com todas as doenças relacionadas é de US$ 20.152.102.171. As hospitalizações custam US$ 1.472.742.952, 68.4% do total e os procedimentos de ambulatório, US$ 679.353.348.

Utilizando o PAR, o sobrepeso e a obesidade contribuem com uma porcentagem entre 6.28% a 14.3% desses custos de acordo com o sexo, pacientes de ambulatório ou hospitalizados e a presença de sobrepeso ou obesidade.

Os custos de hospitalizações por obesidade são maiores para os homens (US$ 47 milhões para US$ 46 milhões), porém o PAR foi menor do que o das mulheres. A situação inversa acontece com os custos de procedimentos ambulatoriais, os homens apresentam um PAR muito mais alto, porém um total de gastos menor (US$ 12 milhões para 18 milhões).

A análise estratificada por grupos de doenças mostra que os maiores custos (cuidados ambulatoriais e hospitalização, nos dois sexos) foram de doenças cardiovasculares (US$ 747 milhões), seguidos por neoplasia relacionada ao sobrepeso e obesidade (US$ 299.8 milhões, majoritariamente nas mulheres 79.5%),asma (US$ 34 milhões), diabetes mellitus (US$ 23.7 milhões) e osteoporose (US$ 3.9 milhões). A maior parte dos custos com doenças cardiovasculares são devido a doenças coronarianas (60,5%). 

Estimativas Conservadoras

Os custos estimados com doenças relacionadas ao sobrepeso e obesidade atingem quase US$ 2.1 bilhões por ano. Usando o PAR a equipe conseguiu estimar que aproximadamente 10% desses custos são referentes apenas a casos de sobrepeso e obesidade. 

As estimativas de custo direto reveladas são, de modo geral, conservadoras. Os recursos oferecidos pelo Sistema de Único de Saúde (SUS) são claramente vistos como estimativas escassas dos verdadeiros custos necessários com a saúde, como é mostrado em alguns estudos brasileiros de custos com doenças, que expõem gastos muito maiores do que os recursos oferecidos pelo SUS.  

Se custos indiretos – como dias de trabalho perdidos por causa de doenças, incapacidade, desembolso com despesas e cuidados com a casa – fossem incluídos, os números seriam bem mais altos. Além do mais, esse estudo foca somente no custo com os cuidados oferecidos por hospitais públicos. Concluiu-se que os custos reais no Brasil seriam logicamente maiores do que os mostrados na pesquisa, se os custos de planos de saúde particulares fossem incluídos. 

Os custos com as mulheres foram maiores do que com os homens, devido principalmente, àsdespesas com consultas (73.3% para 26.7% no custo total, para mulheres e homens, respectivamente). A diferença dos índices de sobrepeso e obesidade no Brasil é muito pequena entre os sexos e as mulheres mostraram quase a metade do PAR para as doenças selecionadas em relação aos homens, sugerindo um maior uso do sistema de saúde para o grupo feminino.  

Problemas cardiovasculares e diabetes mellitus, doenças com alto índice de morbidade e mortalidade são responsáveis por um número significativo de hospitalizações e de despesas no Brasil. Essas duas condições são relacionadas à obesidade e, provavelmente, sua prevalência e seriedade poderiam ser reduzidas com a diminuição dos índices de obesidade.   

O segundo grupo de doenças com os maiores custos ao sistema público de saúde foram as neoplasias. Com a atual tendência à obesidade no envelhecimento da população, o aumento de casos de câncer e os custos envolvidos nisso serão enormes. Os gastos com hospitalizações são geralmente os mais recorrentes e contribuem para os maiores custos para os sistemas de saúde. 

A despesa total relacionada às hospitalizações de brasileiros em idade adulta (ano de 2010) acumulou em US$ 4.5 bilhões. Estima-se que 32.9% dos casos são de doenças relacionadas à obesidade e aproximadamente 11% desses custos podem ser atribuídos diretamente ao sobrepeso e à obesidade. 

A estimativa dos custos com doenças relacionadas à obesidade foi equivalente a 0.09% do produto interno bruto brasileiro, em 2010. Similarmente, uma análise recente na Europa, que incluía os custos diretos e indiretos, avaliou que as despesas ligadas à obesidade abrangem em torno de 0.09% a 0.61% do PIB anual do rendimento da Europa Ocidental. 

No Reino Unido, uma análise de custos com sobrepeso e obesidade demonstrou que essas duas condições foram responsáveis por 7.3% da morbidade e mortalidade, contribuindo para £3 bilhões dos gastos diretos no sistema público de saúde (4.6% do gasto total em 2002). 

Durante os últimos 20 anos, houve um crescimento drástico de obesidade nos Estados Unidos. No ano de 2010, nenhum estado apontava um índice de obesidade menor que 20% e 12 deles tinham uma prevalência de 30% ou mais.  O custo com cuidados médicos com a obesidade, nos Estados Unidos, totalizaram US$147 bilhões, em 2008. 

Uma análise recente oferece uma visão geral do impacto econômico dessa epidemia de obesidade, como também mostra os altos gastos com despesas médicas (obesos gastam de 36 a 100% a mais do que pessoas com peso médio em remédios controlados), absenteismo e queda de rendimento no trabalho, que são dois terços mais altos, e o aumento de gastos com seguro desemprego e seguro por invalidez.

Há um consenso ao longo desse levantamento de que os custos médicos associados com a obesidade são substanciais. No entanto, há diferenças importantes entre esses estudos. Fatores possíveis que podem afetar a diferença nessas estimativas de custos são: metodologia, categorias de custos analisadas (custos médicos relacionados ao diagnóstico e tratamento), pesos diferentes para cada categoria, idade do grupo analisado e fontes de dados. Essas discrepâncias fazem com que seja difícil a comparação dos resultados em cenários diferentes.     

Esse estudo oferece uma estimativa do impacto econômico de doenças relacionadas à obesidade e ao sobrepeso para o sistema público de saúde brasileiro. O conhecimento desses gastos será útil para análises econômicas futuras voltadas à prevenção e tratamento e também de novas pesquisas para o desenvolvimento de novos medicamentos. Isso pode ajudar na redução de despesas de cuidados médicos relacionados à obesidade no Brasil.

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